Criado o ser humano á própria imagem e semelhança, Deus o criou para a comunhão. O Deus criador que se revelou como Amor, Trindade, comunhão, chamou o homem a entrar em intimidade relação com ele e á comunhão interpessoal, isto é, á fraternidade universal.
Essa é a mais alta vocação do homem: entrar em comunhão com Deus e com os outros homens seus irmãos.
Esses desígnios de Deus foi comprometido pelo pecado que quebrou todo tipo de relação: entre o gênero humano e Deus, entre o homem e a mulher, entre irmão e irmã, entre os povos, entre a humanidade e a criação.
Em seu grande amor, o Pai mandou seu filho para que, novo Adão, reconstruísse e levasse toda criação á plena unidade. Ele, vindo entre nós, Constituiu o início do novo povo de Deus, chamando, ao redor de si, apóstolos e discípulos, homens e mulheres, parábola viva da família humana reunida em unidade. A eles anunciou a fraternidade universal no Pai que nos fez seus familiares, filhos seus e irmãos entre nós. Assim ensinou a igualdade na fraternidade e a reconciliação no perdão. Inverteu as relações de poder e de domínio, dando ele mesmo o exemplo de como servir e escolher o último lugar. Durante a última ceia, confiou-lhes o mandamento novo do amor mútuo: "Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; como eu vos tenho amado,assim amai-vos também vós uns aos outros" (Jo 13,34; cf. 15,12); instituiu a Eucaristia que, fazendo-nos comungar no único pão e no único cálice, alimenta o amor mútuo. Dirigiu-se então ao Pai pedindo, como síntese de seus desejos, a unidade de todos conforme o modelo da unidade trinitária: "Meu Pai, que eles estejam em nós, assim como tu estás em mim e eu em ti; que eles sejam um!" (Jo 17,21).
Entregando-se, depois, á vontade do Pai, no mistério pascal, realizou a unidade que ensinara os discípulos a viver e que pediu ao Pai. Com sua morte de cruz, destruiu o muro de separação entre os povos, reconciliando todos na unidade (cf. Ef 2,14-16), ensinando-nos assim que a comunhão e a unidade são o fruto da participação em seu mistério de morte.
A vinda do Espírito Santo, primeiro do aos que têm fé, realizou a unidade querida por Cristo. Efundido sobre os discípulos reunidos no cenáculo com Maria, deu visibilidade á Igreja, que, desde o primeiro momento, se caracteriza como fraternidade e comunhão, na unidade de um só coração e de uma só alma (cf. At 4,32).
Essa comunhão é vínculo da caridade que une entre si todos os membros do mesmo Corpo de Cristo, e o Corpo com sua Cabeça. A mesma presença vivificante do Espírito constrói em Cristo a coesão orgânica: ele a coordena e dirige com diversos dons hierárquicos e carismáticos que se complementam entre si; ele a embeleza com seus frutos.
Em sua peregrinação por este mundo, a Igreja, una e santa, caracterizou-se constantemente por uma tensão, muitas vezes sofridas, rumo á unidade efetiva. Ao longo de seu caminho histórico, tomou sempre maior consciência de ser povo e família de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito, Sacramento da íntima união do gênero humano, comunhão, ícone da Trindade. O Concílio Vaticano II ressaltou, como talvez nunca antes, a dimensão mistérica e comunional da Igreja.
Vida fraterna em comunidade
"Congregavit nos in unum Cristi amor"